CARTÓRIO GENTIL CANTANHÊDE: 108 ANOS DE HISTÓRIA, CUIDADO E AMOR PELA PROFISSÃO EM AXIXÁ

Em Axixá, cidade de pouco mais de 11 mil habitantes no interior do Maranhão, o Cartório Gentil Cantanhêde é mais que um espaço de atendimento. É memória viva, patrimônio afetivo e símbolo de compromisso com a comunidade. Há 108 anos em funcionamento, o cartório tem na titular Amôr de Maria Cantanhêde Pinho uma referência de dedicação, experiência e paixão pela atividade cartorária.

O ofício funciona na casa onde Amôr nasceu e cresceu, um imóvel antigo e simbólico na avenida principal da cidade, onde foi plantado pelo pai dela um pé de Axixá, planta que também nomeia a cidade. A história do cartório se entrelaça à história de sua família desde 1937, quando o pai, Gentil Cantanhêde, assumiu a titularidade após nomeação. Desde então, o local se manteve sob os cuidados da família, atravessando gerações e mudanças sociais, estruturais e tecnológicas.

Nomeada oficialmente em 1988 pelo governador Luiz Rocha, Amôr já era escrevente desde 1981 e substituta natural da mãe, que assumiu o cartório após o falecimento do marido. Com a revisão promovida pelo CNJ anos depois, seu direito adquirido foi reconhecido e ela foi nomeada titular efetiva. De lá pra cá, são 37 anos de atuação diária, sem interrupções. “Nunca tirei férias”, afirma com orgulho. “Se não estou no cartório, estou na rua resolvendo algo por ele. Eu me dedico por inteiro”.

Mais do que títulos ou atribuições, ela é reconhecida pelo zelo no trabalho. Não entrega documento com dúvidas, busca colegas sempre que necessário, participa de congressos, lê, pesquisa, atualiza-se. E cobra rigor técnico da equipe. “Aqui dizem que sou muito cri-cri. Mas eu prefiro ser cuidadosa e garantir que tudo saia certo. O que não sei, eu busco saber. E só assino quando tenho certeza”, conta.

O cartório de Axixá é um ofício único, e isso significa que Amôr exerce todas as atribuições: registro civil, registro de imóveis, notas. Além disso, ela também atua como juíza de paz desde 2010 e, na prática, é conselheira, conciliadora, orientadora jurídica e até figura de confiança da prefeitura em questões burocráticas. “A gente acaba fazendo um pouco de tudo. Às vezes a pessoa vem tirar dúvida sobre imóveis, certidões, documentos, problemas da família. E a gente escuta, orienta, encaminha”.

Esse vínculo com a cidade vai além do papel institucional. Ela conhece as famílias, sabe de onde vêm, quem casou com quem, quem foi registrado por ela e agora volta para registrar os próprios filhos. “Já estou na terceira fase”, brinca. “Registro os netos daqueles que um dia passaram por aqui. Isso é gratificante demais”.

As memórias de atendimento ao longo dos anos revelam um retrato sensível do interior maranhense. Casos de famílias inteiras sem registro civil, nomes escritos de forma equivocada, informações imprecisas sobre horário de nascimento marcadas por expressões populares como “o galo já tinha cantado” ou “o sol já tinha nascido”. Uma realidade que exigia escuta, empatia e adaptação. “Tinha pai que dizia que a filha se chamava Colodiana. A gente orientava, explicava, mas ele insistia. Anos depois voltou querendo mudar o nome porque a menina estava insatisfeita. E eu dizia, foi o senhor quem pediu pra registrar assim”, relembra com humor.

Mesmo com a modernização dos serviços e a chegada dos sistemas digitais, o cuidado permanece. A adaptação às plataformas eletrônicas foi um desafio, mas também uma conquista. Com apoio dos filhos e netos, todos com formação em tecnologia, Amôr conseguiu implementar as exigências e manter a regularidade dos atos. “No início eu sofria. Sentia saudade dos livros antigos, das certidões escritas à mão. Tive que aprender na prática”, conta.

Durante a pandemia, a rotina também precisou mudar. Por fazer parte do grupo de risco, ela passou a despachar documentos de casa, com o computador levado para o ambiente doméstico. “Nunca deixei de atender. Mesmo de máscara e de casa, continuei emitindo os documentos. E a Secretaria de Saúde aqui foi muito eficiente. Tivemos suporte”, destaca.

Outro ponto forte da sua atuação é a relação com o poder público. Ao longo dos anos, ela construiu boas parcerias com sucessivas gestões municipais e passou a contribuir com orientação técnica para setores da prefeitura. Com a regularização fundiária em processo de implementação na atual gestão, Amôr tem atuado para auxiliar a equipe com o conhecimento necessário à condução dos processos. “Muita gente não entende os trâmites. Então eu explico, devolvo com orientação, mostro o que precisa, falo da planta, da memória descritiva. Não deixo ninguém sair sem entender”.

Essa disposição em servir, orientar e acolher é reconhecida pela comunidade. Seu nome virou referência. “Quando chegam aqui, já dizem: é com a dona Amôr? Então vai demorar, porque ela vai revisar tudo”. E ela se orgulha dessa reputação. “É preciso ter responsabilidade. Porque um erro no cartório impacta a vida inteira de uma pessoa. Por isso, eu prefiro pecar pelo zelo do que pela pressa”.

Hoje, aos 72 anos, Amôr já prepara a próxima geração. Sua neta, estudante de Direito, foi nomeada substituta e está aprendendo na prática o ofício que atravessa a história da família. O filho mais velho, que chegou a ser substituto, hoje mora em Brasília, é professor de Direito, engenheiro, e um dos mentores da urna eletrônica. “Infelizmente, com a rotina dele, não pôde continuar comigo. Mas a neta está aqui, aprendendo. E a Deus pertence”.

Para os colegas cartorários, ela deixa um recado: “Cartório não é só carimbar papel. É ter amor, paciência, estudo, cautela. Não se pode fazer porque o colega faz. Cada documento exige responsabilidade. E, acima de tudo, é saber lidar com o público. Porque é dele que a gente depende”.

A história de Amôr de Maria Cantanhêde Pinho e do Cartório Gentil Cantanhêde é, acima de tudo, uma história de compromisso. Uma vida dedicada a servir com honestidade, competência e paixão por uma profissão que marca, transforma e acompanha a vida das pessoas em seus momentos mais importantes.

Fonte: Ascom da AnoregMA


ACOMPANHE-NOS