Famílias começam a reequilibrar orçamento e consumo dá sinais de fôlego

O consumo das famílias deve dar sinais mais concretos de retomada neste ano. A melhora esperada ainda está distante do período de bonança da economia brasileira, mas as previsões já dão indícios de que o pior da crise ficou para trás.

Hoje, bancos e consultorias estimam que o consumo das famílias deve crescer entre 2,5% e 3% neste ano. Se confirmado, será o melhor desempenho desde 2013. Em valores, o consumo pode movimentar R$ 295 bilhões, segundo estimativas do banco Santander.

Uma combinação de fatores tem permitido um cenário mais positivo para o consumo. Nos últimos anos, os brasileiros passaram a reorganizar o orçamento pessoal, abrindo algum espaço para tomar novos créditos. Além disso, a melhora do mercado de trabalho – ainda que tímida e mais focada no emprego informal –, a inflação controlada e os juros baixos têm colaborado para um avanço da confiança na economia e, consequentemente, para uma disposição maior em comprar.

"O consumidor tem uma expectativa de melhora da atividade econômica neste ano e um otimismo em relação ao futuro", diz Viviane Seda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Nas últimas leituras sobre a confiança do consumidor, esse otimismo com o futuro ficou evidente. A expectativa dos entrevistados com a situação financeira futura ultrapassou os 110 pontos em janeiro – patamar que não era superado desde fevereiro de 2013.

Além disso, o estresse financeiro das famílias medido pelo Ibre/FGV – que leva em conta a proporção de brasileiros que usa algum tipo de poupança para quitar dívidas ou que ainda se endividam – está em caindo gradualmente. "O estresse financeiro recuou para todas as faixas financeiras, desde os consumidores que têm menos poder aquisitivo aos que têm mais. Isso é muito positivo", diz Viviane.

De fato, as famílias estão com uma margem de manobra maior no orçamento. O comprometimento de renda deve recuar para 25% neste ano, segundo um levantamento da consultoria Tendências. Ou seja, de cada R$ 100 obtidos por uma família, R$ 25 estarão comprometidos com algum tipo de dívida. Será o terceiro ano seguido de queda.

"O consumidor melhorou o seu perfil de dívida e conseguiu migrar para modalidades mais baratas", diz Isabela Tavares, economista da Tendências Consultoria Integrada. "O perfil de crédito do tomador melhorou e agora os consumidores têm condições de reduzir o seu endividamento."

Ao longo de 2018, a melhora do consumo das famílias já vinha sendo observada, também por causa da baixa inflação e pelo baixo patamar dos juros. O que atrapalhou um desempenho mais robusto foi a confiança, afetada pela greve dos caminhoneiros de maio e pela incerteza eleitoral.

"A confiança acabou jogando contra o consumo no ano passado. A recuperação só foi ocorrer em novembro, depois da eleição", afirma Lucas Nobrega, economista do banco Santander.

Consumidores esperam melhora real

Entre os consumidores, há realmente uma maior predisposição para consumir e a confiança na retomada econômica, mas ainda é preciso que essa percepção se transforme em realidade.

"As pessoas estão acreditando mais (na economia) e, por isso, acabam consumindo mais também. A confiança cresceu, mas isso não quer dizer que vai melhorar", afirma a professora Marciléia de Lima Espin, de 32 anos.

Na época da crise, a família de Mariléia foi obrigada a reduzir uma série de itens de consumo para conseguir equilibrar o orçamento. "Fomos atrás de mais promoções e cortamos viagens." Agora, aos poucos, ela espera retormar os velhos hábitos de consumo.

Para Tamara Neri Santana, de 34 anos, ainda há um receio de gastar mais neste ano, "mas pelo o que a gente vê a economia está melhorando". "O emprego de repente pode melhorar um pouco mais, mas ainda estamos com receio", afirma a assistente de recursos humanos.

Reformas são importantes, mas não fundamentais 

A expectativa positiva traçada para o consumo leva em conta um cenário em que o governo Jair Bolsonaro enderece as principais reformas econômica, sobretudo na área fiscal, com a mudança na legislação previdenciária.

Mas, mesmo se toda a agenda não sair do papel, a volta do consumo deverá ocorrer neste ano, de acordo com economistas. O fracasso da agenda reformista pode ter um impacto no investimento e no canal do crédito, mas vai deve levar algum tempo para fazer o consumidor desistir de comprar.

"É claro que se a reforma não acontecer vai ficar um clima ruim, mas isso não interfere tanto na confiança porque o impacto que ela terá no dia a dia das pessoas leva tempo para produzir resultados mensuráveis", diz o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC). "Abdicar de bens de consumos duráveis é algo que provavelmente não vai voltar a acontecer este ano."

FONTE: Portal G1 - Caderno de Economia 


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