Inadimplência também atinge os mais jovens

O Brasil tem mais de 60 milhões de brasileiros inadimplentes, e a questão se tornou um problema alarmante também nas gerações mais jovens. De acordo com dados levantados pela Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), essa população contrai, já em seus primeiros anos no mercado de consumo, alto valor de cobranças em atraso. Os millennials (entre 22 e 37 anos) do Sul do País têm dívida média de R$ 4.181,00, segundo maior montante para a geração em território nacional, perdendo apenas para a mesma população na região Centro-Oeste por R$ 140,00 (R$ 4.321,00). 

Nessa faixa etária, existem 51,5 milhões de brasileiros segundo dados do IBGE. A pesquisa da ANBC identificou que 20,6 milhões deles, ou 40% do total, estão inadimplentes. Para o presidente da ANBC, Elias Sfeir, a questão central por trás dos altos índices está ligada à falta de educação financeira. Em particular, nos jovens, a suscetibilidade a campanhas de marketing, a alta oferta de crédito estudantil de alguns anos atrás e a própria situação econômica contribuíram para o quadro. Dados do IBGE mostram que o mercado de trabalho para a faixa de 25 a 39 anos, próxima aos millennials, tornou-se mais complicado. Enquanto, no terceiro trimestre de 2014, a taxa de desocupação para o grupo era de 6,6%, no mesmo período do ano passado, o número subiu para 11%.

A geração Z, que antecede os millennials, encaminha-se para quadro semelhante. Da população de 13,8 milhões de brasileiros até 21 anos, em números absolutos, são 4,4 milhões de pessoas com dívidas em atraso. Somando as duas gerações, esse total de jovens atinge 25 milhões de pessoas - o que, na prática, significa que, a cada 10 brasileiros na mesma situação, quatro tem até 37 anos. Sfeir observa que os dados atuais das faixas podem sinalizar uma insustentabilidade futura. "Especialmente a geração Z não costuma ter obrigações maiores, como filhos e as responsabilidades de um lar", alerta. 

O presidente também defende que a falta de controle das gerações mais novas está, inclusive, aumentando o tíquete médio devido pelas gerações que, historicamente, tem alto grau de inadimplência, como os babyboomers (de 54 a 72 anos), que, na Região Sul, tem dívida média de R$ 6.646,00. "Os jovens acabam, por exemplo, recorrendo aos avós para conseguir crédito consignado para quitar alguma dívida", relata, o que contribui para um círculo de endividamento.

Para que o quadro seja invertido, o educador financeiro Leandro Rodrigues sugere que esses jovens deixem de clonar o que muitas vezes é um comportamento familiar de consumo fora do padrão aquisitivo pessoal. "São pessoas sem um objetivo claro de compra e sem programação de gastos", comenta Rodrigues. Aquilo que chama de "contabilidade mental", diz o educador, é o mais prejudicial para a saúde financeira individual. Nesse sentido, o ideal seria descobrir formas visuais, como o próprio papel, para planejar o orçamento. Sfeir sugere que os jovens se façam as perguntas "eu quero? eu posso? eu devo?" antes de tomarem uma decisão de compra.

FONTE: JORNAL DO COMÉRCIO


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